quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Guiana Francesa???

Quase um mês e ainda não consigo entender a lógica desse lugar. Se é que há alguma... O cenário não cria uma boa perspectiva de futuro próximo para Guiana, se as coisas não mudarem um pouco. Andando por Kourou, por exemplo, fica fácil perceber que o sistema mantido pelo governo francês, de compra da paz local, não ficará viável em poucos anos. A crescente inclusão de imigrantes, legais ou não, apesar da tentativa de estreitamento dessas portas de entrada, aliado ao crescimento da população jovem, sem objetivos ou preparo adequado pro futuro, serão os primeiros indicadores de problema grave num futuro próximo. Acho que cada vez mais próximo. A sociedade local está baseada apenas no poder de consumo, principalmente de bens materiais. Com uma base cultural fraca, exportaram valores ruins da sociedade americana, por exemplo. Vejo jovens despreparados, ostentando carros luxuosos, que ouvem músicas ruins e sem atividade real de trabalho, na maior parte dos casos. A crescente inclusão desses jovens de hoje na população adulta, em pouco tempo criará um grave problema de emprego. Que pelo fator histórico local, não aceitarão empregos de terceiro escalão, que sempre são delegados aos imigrantes brasileiros e haitianos. Ficará muito caro pro governo francês, manter os subsídios e incentivos sociais pra população adulta crescente. Além das questões, política e econômica, as bases sociais também entraram nessa linha tênue. Não vejo um sistema de saúde básico que se sustente com a perspectiva desse aumento populacional. São poucos profissionais na região. Não há uma preocupação na saúde preventiva e planejamento familiar. Pelo menos não vi, no pouco tempo de investigação. Observo sim, preocupação constante com às questões de segurança nacional, principalmente no setor militar, pela localização do centro espacial. E a questão dos brasileiros aqui... Isso poderá ser um problema ainda maior no futuro... Não penso ficar tanto tempo assim aqui pra ver... Só não sei se sairei a tempo...

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Imagem bonita também...


Por do sol em Kourou (07/08/09).
Foto de Cyril Regnaud

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

E lá se vai a primeira semana...

Os primeiros dias anunciavam que minha estadia por aqui seria um tanto pouco agradável. Até aterrorizante, diria. Contudo, a primeira semana se foi, os medos diminuíram e o cenário ficou menos assustador. Já consigo sair sozinha caminhando pelos arredores do apart-hotel. No final de semana fomos a Cacao, uma vila que fica à mais ou menos 120 km de Kourou. Muito simpática por sinal. É habitada por Hmong, refugiados que chegaram à Guiana na década de 70, fugidos da guerra do Vietnã. Engraçado que esses refugiados chegaram no Brasil e foram rejeitados pelo governo ditatorial da época. Hoje em Cacao, os Hmongs sobrevivem basicamente da agricultura e pesca. Eles promovem aos domingos uma feira de artesanato e culinária oriental. É impressionante como faz sucesso o lugar. Particularmente gostei, parece que a gente se transporta pra Ásia... Hoje outra experiência me surpreendeu por aqui. Saí pra caminhar um pouco e comprar umas coisinhas no mercado. Na volta errei o caminho e tive que passar por uma área que não conhecia. Primeiro vi uma pequena favela com casinhas de madeira, bem pequeninas, muitas crianças brincando na terra e muita pobreza também. Meu marido tinha me contado que havia uma favela na época que esteve em Kourou, mas que o governo local tinha retirado e construído casas populares. Pelo que percebi, eles apenas construíram casas melhores na frente e esconderam a favela atrás. Continuei caminhando, tentando achar o caminho certo pra casa, e ouvi pessoas cantando. A música vinha de uma igreja. Me aproximei, a igreja estava cheia, as pessoas cantavam e dançavam, parecia um culto africano. Era tão bonito... Me emocionei com o que vi... Pena não ter filmado...

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Dica de leitura




Aproveito os dias e me dedico mais a literatura e o francês...
Um ótimo livro que estou lendo é "O Mundo Segundo a Monsanto" da Marie-Monique Robin.

Dura realidade

O dia seguinte não pareceu tão ruim. Encerramos com um lindo por do sol na praia. Com areia marrom e água barrenta... Ah! E muitos peixes estranhos, acho que monstrinhos, na água... No terceiro dia em Kourou, acordamos cedo para ir até a Préfecture em Caiena, tinha o problema do visto pra resolver. O setor de estrangeiros no local é deplorável. Como disse meu marido, vimos o pior do terceiro mundo ali. Uma grande fila com imigrantes pobres do Brasil, Haiti, República Dominicana, Suriname e outros países da região. Duas mulheres atendiam protegidas por um vidro, e falavam em microfones. Um a um se seguia e era chamado na fila, expondo sua situação na frente de todos, sem nenhum respeito ou privacidade. Vi pessoas muito pobres, sem opção ou instrução, serem mal tratadas pelas grosseiras e desumanas atendentes. Entendo que para muitos passar por aquilo tudo significava a chance de mudar um pouco suas histórias. Mas é difícil aceitar que aquilo tudo possa ser melhor do que o que viviam antes em seus países de origem. Não sei se terão uma sorte melhor por aqui, ou serão mais explorados e mal tratados. Muitos jovens com sonho de prosperidade nas áreas de garimpo, acabam caindo na armadilha da escravidão. Pelo que percebi, muitos estavam ali com essa finalidade. Até pude ver um sujeito alto, vestido de ouro, com feições nem um pouco amigáveis, vigiando os seus prováveis "empregados". Fiquei chocada com a situação toda. Minha cabeça rodava. Sentia muito pesar por aquelas pessoas, e pelo o que os esperavam ali...
No meu caso, após longa espera, fomos atendidos pela chefe do setor, uma senhora muito simpática e prestativa que se encarregou de nos ligar quando estivesse tudo mais ou menos resolvido...

Pisando em terreno desconhecido...

Finalmente chegamos ao aeroporto de Caiena. Antes do pouso já conseguia visualizar a imensidão de floresta amazônica com pequenos sinais de civilização localizados no meio do nada. Um frio na barriga apareceu subitamente e, em cólicas retornava e retornava. No desembarque uma recepção pouco calorosa por parte da polícia local. Até que o policial que nos atendeu não foi tão duro quanto imaginávamos, para resolver o problema com o visto, chegou a quase ser simpático... Um calor indescritível com a grande umidade deixava a respiração difícil, como o efeito do interior de uma sauna a vapor. Pegamos o carro no estacionamento, que não funcionou de imediato pois a umidade tinha colado o freio de mão. Saímos de Caiena e a paisagem continuava de floresta tropical, com poucas casas na beira da estrada até Kourou. Chegando em nosso destino, fiquei meio em choque com a imagem local. Um misto de medo, surpresa, nervosismo e espanto, tomava conta de mim. Não consegui controlar os sentimentos. Me senti num pais africano, como a Guine Bissau por exemplo. Não que tenha alguma coisa contra a África, até tentei ir em missão algumas vezes para lá. Mas não esperava que as condições de Kourou fossem tão precárias... Tive uma taquicardia súbita ao sair do carro pela primeira vez. Acho que com um certo preconceito da minha parte ao associar violência a jovens pobres da raça negra e em grupo. Fruto dos vários episódios violentos presenciados e vividos por mim no Rio de Janeiro. Conversei sobre isso com meu marido para tentar tirar essa ideia ruim da cabeça. Fomos ao supermercado, tudo muito, muito caro, com data de validade vencida e qualidade duvidosa. Gastamos 100 euros em algumas coisinhas (água, massa, enlatados). O custo de vida é altíssimo por aqui. Só ganhando muito mesmo. Tudo vem da França de navio ou avião, como o local não tem agricultura e indústria desenvolvida fica totalmente dependente da importação. O pior é que tem que obedecer os critérios de importação da França, não podendo por exemplo, importar diretamente do Brasil. Resultado, produtos caros e pelo calor e umidade, aliados ao tempo de estocagem e transporte, tudo com qualidade mais ou menos. Um problema ainda maior em relação às carnes e laticínios. A carne que já é cara e não muito boa na França, fica ainda mais cara e ruim por aqui. Não sei como sobrevive quem ganha pouco... Os muitos imigrantes ilegais por exemplo...

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Entendendo melhor a Guiana...

Alors... A Guiana Francesa em 1946 deixou de ser colônia para ser considerada Departamento Ultramarinho Francês (DOM/TOM), é portanto parte integral da república francesa com participação política e econômica. Está localizada na Améria do Sul, ocupa uma superfície de 86.504 km2 e faz fronteira com Brasil e Suriname (antiga Guiana Holandesa). Tem uma constituição populacional complexa, com o poder local quase que totalmente nas mãos dos Creoles (negros e mulatos descendentes dos escravos), além do grande contingente de imigrantes negros de outras regiões do Caribe e América Central, brasileiros, chineses, índios e ameríndios, e europeus.
Durante a fase colonial com regime escravagista, foi uma região próspera agricolamente, exportadora de várias culturas para a Europa. Com a abolição em 1848, abandonou a agricultura para se dedicar quase que exclusivamente a extração mineral. Muitos imigrantes ilegais entraram na região com o sonho da riqueza no garimpo. No final da década de 60, com a criação do centro espacial de Kourou, houve injeção considerável de dinheiro na região, alavancando o crescimento local. Hoje a região apresenta grandes discrepâncias sociais. Graves problemas com imigração, exploração de mão de obra escrava nos garimpos e corrupção.
Até o momento não consegui entender bem o sistema social local...

Antes da aventura...

Sou enfermeira, funcionária pública federal e municipal na cidade do Rio de Janeiro. Casada com um engenheiro francês, vivíamos muito bem na cidade maravilhosa. No início de 2009, após ser engolido pelo sistema burocrático brasileiro e com fechamento de sua empresa, meu marido aceitou nova proposta de trabalho na Guiana Francesa para contrato de 3 anos. Iniciamos os preparativos para a nova vida na Guiana, lugar totalmente desconhecido por mim. Solicitei licença sem vencimento no serviço público. Dei entrada no pedido de visto para Guiana no consulado da França no Rio, pois apesar de ser casada com francês é necessário visto para entrar na Guiana. Em primeiro de julho viajei para França para ir em agosto de mudança para Guiana. Parecia que seria muito fácil a adaptação antes de partir para o Departamento DOM/TOM (que inclui a Guiana), os dias na França seguiam perfeitos. Verão em Paris, passeios e compras, não tinha idéia do que me esperava...rs
No sábado, dia primeiro de agosto, seguimos para o aeroporto Charles de Gaulle. Já na área de embarque para Guiana comecei a observar as pessoas que aguardavam para o mesmo voo. Fui informada na hora do embarque que meu visto estava errado. O policial verificou e liberou o embarque indicando que havia um problema no passaporte. Nove horas de voo, num avião lotado, serviço de bordo ruim, viagem cansativa e, ao chegar na Guiana, tivemos a confirmação de que o visto estava errado. Ficamos aguardando um tempo considerável até que o policial nos liberasse com a orientação que eu deveria solicitar a carte de séjour com urgência. Já sabia que não seria fácil minha vida na Guiana....

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Links importantes

Contatos

fabianaregnaud@gmail.com